Oração pela libertação dos povos indígenas
Parem de podar as minhas folhas e tirar a minha enxada.
Basta de afogar as minhas crenças e torar minha raiz.
Cessem de arrancar os meus pulmões e sufocar minha razão.
Chega de matar minhas cantigas e calar a minha voz.
Não se seca a raiz de quem tem sementes espalhadas pela terra pra brotar.
Não se apaga dos avós rica memória, veia ancestral: rituais pra se lembrar.
Não se aparam largas asas que o céu é liberdade, e a fé é encontrá-la.
Rogai por nós, meu Pai Xamã para que o espírito ruim da mata não provoque a fraqueza, a miséria e a morte.
Rogai por nós Terra nossa Mãe, para que essas rotas e esses homens maus se acabem ao toque dos maracás.
Afastai-nos das desgraças, da cachaça e da discórdia, ajudai a unidade entre as nações.
Alumiai homens, mulheres e crianças, apagai entre os fortes a inveja e a ingratidão.
Dai-nos a luz, fé a vida nas pajelanças.
Evitai, ó Tupã, a violência e a matança.
Num lugar sagrado junto ao igarapé nas noites de Lua cheia , ó Marçal, chamai os espíritos das rochas pra dançarmos o Toré.
Trazei-nos nas festas da mandioca e Pajés a resistência da vida, após bebermos nossa chicha com fé.
Rogai por nós, ave dos céus para que venham as onças, caititus, seriemas e capivaras, cingirem os rios Juruena, São Francisco, Paraná e até os mares do atlântico porque pacíficos somos. No entanto, mostrai nosso caminho feito boto.
Alumiai para o futuro nossa estrela.
Ajudai a tocar as flautas mágicas para vos cantar uma cantiga de oferenda ou dançar num ritual Iamaká.
Rogai por nós Ave-Xamã o Nordeste e no Sul toda a manhã, no Amazonas, agreste ou no coração da Cunhã.
Rogai por nós, araras, pintados ou tatus,
Vinde em nosso encontro meu Deus Nhendiru!
Fazei feliz nossa mintã que de barrigas índias vão renascer.
Dai-nos cada dia a esperança, porque só pedimos terra e paz pra nossas pobres e ricas crianças.
Eliane Potiquara – Professora e escritora indígena brasileira de origem potiguara. Uma das 52 brasileiras indicadas ao projeto internacional Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz. Foi nomeada uma das “dez mulheres do ano em 1988”, pelo conselho das mulheres do brasil por ter criado a primeira organização de mulheres indígenas no país: o Grumin (Grupo Mulher Educação Indígena) e por ter trabalhado pela educação e integração da mulher indígena no processo social, político e econômico no país.
Bênçãos Plenas